Mesmo depois do fim da saga, o bruxo não tem paz. Não estou falando daquele amigo do Raul Seixas, mas do órfão, míope e bode expiatório dos planos de Dumbledore. Desta vez, o salvador de Hogwarts virou assunto de um sério estudioso da alta magia e escritor de quadrinhos, o sempre cabeludo Alan Moore.
Teve gente que, como eu, achou
graça na notícia publicada na segunda-feira, no Globo, reproduzindo a reportagem
do britânico The Independent - Alan Moore
transforma Harry Potter no anticristo -, mas Juliana Giglio não foi uma
delas. “Que os fãs me perdoem, mas eu tenho preguiça do Alan Moore”, diz ela.
Pronto, estava aberto o debate. Gosto do cara, e imagino que por trás de tanta
barba, cabelo e bigode, haja um espírito gaiato sempre pronto pra virar um mito
de ponta-cabeça, pela farra de brincar com a coisa toda. Sei também que, ao
usar a palavra "gaiato", metade dos seguidores de Moore me olharão
torto, mas acalmem-se que a discussão mal começou.
Vinícius Marins entra na conversa
para contar que, nos últimos anos, Moore tem mesmo sido mais conhecido por sua
ranhetice, e por criticar os atuais quadrinhos americanos e o quanto a DC se
aproveita do sucesso das obras que ele publicou pela editora. Existe fundamento
nisso: a DC acaba de lançar minisséries estreladas pelos protagonistas de Watchmen com aventuras que se passam
antes da obra do Moore.
O comentário aumenta o barulho
das moças, Mariana e Juliana têm carinho especial pelo menino bruxo e Doris
bota lenha na fogueira, provocando os nerds:
- Alan Moore, e também o Gaiman,
são mestres em se apropriar de histórias dos outros para reescrevê-las. Pode
ser que o senhor Moore esteja fazendo outra coisa considerada genial, para quem
gosta do gênero. Mas acho suficiente que as histórias sejam apresentadas e o
jornal inglês poderia perfeitamente fazer isso sem acirrar os ânimos.
Tatiana Laai acha que a polêmica
é coisa mais da imprensa do que de Alan Moore, e até que faz sentido:
- Ele já brincou com o Potter no Lost Girls, por exemplo, e não lembro
disso ter dado pano pra manga. Acho que o Moore anda meio ranzinza mesmo, mas
daí a arrumar quizumba com fã de Harry Potter de graça, acho que não...
Vinícius e eu concordamos,
achamos que tem dedo do sensacionalismo britânico no imbroglio, seja para movimentar as vendas de Moore ou trazer o nome
de Potter à imprensa, e não acreditamos que isto vá denegrir as histórias do
guri com o raio na testa. Vinícius
aproveita para dar uma aula (oba!):
- Essa graphic novel é a terceira
parte da última aventura que Moore escreveu da Liga dos Cavaleiros Extraordinários, que já estrelaram um filme e
tem seus fãs. Normalmente, quem gosta não conhece a obra original. A proposta
da saga é mesmo mexer com grandes personagens da literatura que conviveriam em
um mesmo universo. Alan
Quatermain, de As Minas do Rei Salomão,
por exemplo, é um maníaco depressivo viciado em ópio.
Esta última saga foi dividida em
três partes: Century: 1910, Century: 1969 e Century: 2009. Contam como a Liga agiu durante todo o século XX e
dá amostras de como estariam agora no século XXI. A capa da última parte, com a citação de Harry Potter, é
esta:
E eu, que adoro o humor iconoclasta desse inglês maluco, fecho esta rinha de gigantes com uma ideia: deveríamos desafiar o Alan Moore a fazer uma história totalmente diferente do universo que ele tanto gosta de revisitar. Vamos desafiá-lo a recriar um exemplar da nossa literatura de cordel, e em sextilha!
O que acham?
Alguém tem o e-mail dele aí?
Vejam a reportagem original em:
http://www.independent.co.uk/arts-entertainment/books/news/revealed-harry-potter-is-the-antichrist-7856662.html
http://www.independent.co.uk/arts-entertainment/books/news/revealed-harry-potter-is-the-antichrist-7856662.html