por Thiago Ortman
Durante a excelente entrevista com Rubel, entre os vários assuntos conversados sobre sua iniciante carreira musical, um me chamou atenção. Rubel citou Bon Iver como uma das principais referências musicais para a composição do seu álbum Pearl. E argumentou que o músico faria algo que só ele sabia fazer atualmente. É possível que sim, mas a partir dessa constatação parei para pensar como a música folk americana vem evoluindo nos últimos anos.
Durante a excelente entrevista com Rubel, entre os vários assuntos conversados sobre sua iniciante carreira musical, um me chamou atenção. Rubel citou Bon Iver como uma das principais referências musicais para a composição do seu álbum Pearl. E argumentou que o músico faria algo que só ele sabia fazer atualmente. É possível que sim, mas a partir dessa constatação parei para pensar como a música folk americana vem evoluindo nos últimos anos.
O folk, muitas vezes, é apontado como um estilo musical
estagnado no tempo, devido à maneira simples – a princípio - de reproduzí-lo:
com voz e violão. Porém, uma série de artistas que têm um
conhecimento absoluto da música americana, se apropriaram da sonoridade para
repensá-la, e certamente Bon Iver está entre eles.
Sufjan Stevens é um bom começo para ser comentado. O musico
de Detroit (Michigan) surgiu para a cena no início da década passada, empunhando
seu bom violão, mas não se se limitou a realizar somente voz e violão. Sua
sonoridade está associada a um som mais sinfônico, ou o que é chamado de chamber
pop (pop de câmara). Como se não fosse suficiente, no seu último álbum (The
Age of Adz, de 2010), Sufjan foi ainda mais longe. Produziu um álbum que
atravessa do folk ao pop eletrônico com uma aparelhagem de sintetizadores,
samples e até mesmo a utilização do dispositivo do autotunes, com uma qualidade
que poucos artistas conseguiram até então.
Outra citação de Rubel foi a banda Fleet Foxes. Através do
folk e de uma relação muito próxima com a música indie, o grupo de Seattle
(Washington) recorre a elementos principalmente de produção sessentista.
Com canções repletas de coros, o Fleet Foxes cria uma atmosfera pastoral que em
diversos momentos se aproxima do que o Beach Boys criaram um dia (em 1960 e
poucos) – embora não valha nenhuma comparação, os sons vão por caminhos bem
distintos, no final das contas.
De maneira mais extrema, Joanna Newson parece a artista folk
que melhor se utiliza das concepções “rústicas” do estilo para criar um som que
poderia muito bem ultrapassar o selo de contemporaneidade. A harpista de Nevada
City (na California) é dona de faixas longuíssimas e álbuns épicos como Have
One on Me (2010), que compõe três discos. A voz de Joanna pode ser considerada
única dentro do universo musical, capaz de criar as mais diversas variações
vocais. Além atingir o agudo como poucos, a harpista traz elementos da música
erudita e flerta com o jazz para gerar seu folk barroco – com muita harpa,
instrumentos de sopro e piano. E quem disse que o “barroco” não poderia andar
lado a lado com o contemporâneo?
O guitarrista Kurt Vile acaba de lançar Wakin on a Pretty
Daze, álbum que começa com a faixa-quase-título Wakin on a Pretty Day, que
faz jus às belas canções de Neil Young, indicando um possível álbum que siga as
fieis “tradições” do folk rock. Nada disso, com seu estilão Lou Reed de cantar,
duas faixas mais tarde, Kurt já está adicionando batidas eletrônicas e
resignificando tudo que poderia ser chamado de folk pelos ordotoxos. Mas quem
se importa? É um baita disco!
Entre as bandas, existem muitas. As mais famosas: Wilco,
Califone e Grizzly Bear, grupo que tocou no Brasil em fevereiro. Mas, assim como
começou, o texto pode ser muito bem concluído com Bon Iver, que ao contrário
de Rubel, está longe de ser o meu artista (e agora, banda) favorito no estilo – sou mais todos os artistas citados acima. Porém, Bon Iver busca uma
sonoridade à parte, que tem como marca andamentos lentos (que um dia foram
ainda mais lentos, em seu primeiro álbum), um vocal bem marcado por falsetes,
trazendo à tona alguns artifícios dos anos 80 para sua produção.
O fato de Bon
Iver ter deixado de ser somente Justin Vernon (o vocalista e mentor) e ter se
tornado um grupo foi essencial para ganhar uma roupagem mais
energética, retirando a sensação melancólica do debut For Emma, Forever Ago (2007). Porém, Justin Vernon parece ter dado um tempo sem hora pra voltar na
banda, mas ainda tem gente querendo vê-lo por aqui: