2013 passou rápido como qualquer
outro. E o que resta dos últimos dias – além de champagne e
rabanada – são aquelas listinhas de músicas, livros e filmes, que
na maior parte das vezes servem para entreter uma meia dúzia e seu
autor. Porém, desta vez, talvez eu não queira fazer uma lista
musical (algo que você pode achar
aqui),
mas um comentário mais amplo sobre um ano que começou timidamente e terminou
com gosto de trabalho bem feito. Então, podemos considerar que farei
uma breve retrospectiva das melhores coisas na música.
Vale começar com Vampire Weekend,
banda de rock que em seu terceiro álbum finalmente vingou, ao menos
para mim. Aliás, apesar de ter dito “rock”, algumas vezes em
que ouvi The Modern Vampire of the City, de algum jeito
estranho a banda conseguia deixar o termo em suspenso. As guitarras
que marcavam os hits de trabalhos posteriores (Cousins, A-Punk) foram
suprimidas por sintetizadores, teclados, pianos e banjos, mas não é
pela falta (ou pouco uso) delas que o VW deixou de produzir um som
que possa ser designado nas revistas de música como “rock”, a
energia de Diane Young e a densidade de Hudson que o
digam.
Então, vem a perspicácia do músico
Kieran Hebden, conhecido como Four Tet, que em um ano lançou dois
trabalhos impressionantes. O primeiro, em janeiro: 0181 é uma
compilação de trabalhos realizados por ele de 1997 à 2001. Uma
faixa única, de pouco menos de 40 minutos, que reúne o passeio
sonoro por gêneros. É uma espécie de nuvem que vai coletando
informações de diferentes tempos e interesses – dentro dos quatro
anos que comportam o trabalho de arquivo. Em outubro, veio a segunda
pedrada: Beautiful Rewind é um trabalho recente, onde todas
faixas são e não são hits. Como Four Tet sabe ser, os samples são
quase sempre competentes e a frequência rítmica vai de encontro às
pistas de dança, às vezes bem anos 90 (e o início das raves
inglesas), a todo tempo bem atual – mas também atemporal, sem que
tal adjetivo queira soar prepotente.
O pop realmente parece ter se
resolvido, ou ao menos está a caminho disso. Em 2010, a cantora
Janelle Monáe já havia acertado em trazer à tona um pop futurista
que flertava com a black music do seu e de outros tempos. O álbum de
2013 (The Electric Lady) não teve a mesma inspiração, em
especial se compararmos com a primeira parte de The 20/20
Experience, álbum brilhante de Justin Timberlake, que após
muito alarde realmente honrou seu tempo de maturação (7 anos). Não
seria demais apontá-lo como um passo importantíssimo para a
sobrevivência do pop de qualidade. Colocar a primeira parte do
trabalho ao lado do brilhantismo de gente como Michael Jackson,
Prince, Stevie Wonder não seria exagero - artistas aos quais o
próprio Justin faz menções. Das “20 experiências”, considero
as 10 primeiras fundamentais para o legado da música pop daqui pra
frente, pois certamente virá mais, do próprio e de quem esteja tão
comprometido e influenciado
como ele.
Outro artista que caminhou pela seara
da pop music no últimos anos é o rapper Kanye West. Mas este
resolveu produzir experimentações em Yeezus. Já vi gente
acusando a faixa Black Skinhead de plágio do clássico Beautiful People, de Marilyn Manson. Pelo que se nota e se supõe
de Yeezus, é que KW o fez plenamente consciente, e mais, ele
deve estar bem feliz pelas acusações - afinal, pra quem não sacou
o disco e as ideias do criador, elas vão bem por aí.**
Entre os brasileiros, confesso que este
ano os deixei um pouco de lado. Fato é que pouca coisa “dos
melhores brasileiros do ano” dos sites que tem por aí me
interessava. No entanto, Passo Torto, Thiago França e São Paulo
Underground impressionaram - todos de São Paulo. Passo Torto
produziu o álbum
Passo Elétrico, aclamado pela crítica. A
meu ver, não chega aos pés do homônimo de 2011. SP Underground,
trio de jazz avant-garde lançou um grande álbum de música
instrumental, provavelmente o melhor da carreira de quatro discos do
grupo. Nos últimos dias do ano surgiu a homenagem do saxofonista
Thiago França aos 50 anos de lançamento do livro
Malagueta,Perus e Bacanaço, clássico da boemia paulista de João
Antônio. Assim como a literatura de João Antônio, as músicas de
Thiago França me acertam a alma desde
Sambanzo, disco do ano
passado sobre o qual escrevi um textinho no
Saxpax.
Por fim, esboço alguns elogios aos
dois melhores trabalhos do ano. P.A. / Hard Love e Nocturnes,
de Marina Rosenfeld e William Basinski, respectivamente. São dois
filmes de terror em suas maneiras de agir. O primeiro é um terror
urbano, que usufrui da paisagem nova iorquina para assassinar (ou
distanciar) a canção, e fazer existir o barulho. O segundo é um
terror espacial, onde a chave é a repetição da fita, repetição
incessante de um mesmo barulho, com a mixagem em sua maneira mais
brutal. É aí que a gente conclui que “barulho” é um elogio, e
sempre foi, na verdade, embora as pessoas teimem em não acreditar.
*alusão ao título com 10 faixas em
cada álbum.